O Ninho do Urubu amanheceu com um calor diferente, que não vem só do clima do Rio de Janeiro. Há uma inquietação no ar, daquelas que martelam na cabeça o tempo todo, quem sabe, até uma frente fria vindo em rotas russas. Gerson, o Coringa, vive um daqueles dilemas que parecem maiores do que o futebol: seguir onde é rei ou partir em busca de ouro? O Zenit, da Rússia, mais uma vez bateu à porta. Com uma força equivalente a 25 milhões de euros, e prontos para serem entregues à vista, o clube russo sinalizou ao Flamengo que está disposto a levar o camisa 8 para bem longe da Gávea, bem longe de casa. E a decisão, agora, é dele. Só dele.
Gerson completou 28 anos em maio. Para o mercado europeu, não é mais promessa, é um jogador maduro, que talvez viva sua última janela de valorização. É o tipo de proposta que tira o sono de qualquer um. Um futuro financeiramente confortável em troca de um presente carregado de amor, título e identidade rubro-negra.

Foto: Gilvan de Souza/CRF
E aí, Coringa, vale a pena?
É difícil não lembrar que Gerson já foi, e voltou. Em 2019, chegou ao Flamengo como um meia talentoso, mas ainda um tanto subestimado. Em campo, virou símbolo de raça e imposição. Comandou meio-campos, ergueu taças, conquistou o coração da arquibancada, e foi embora. O Marselha o levou, e por lá não brilhou tanto quanto aqui. Em 2023, o Flamengo o trouxe de volta, como quem recupera um filho pródigo. E desde então, ele tem sido fundamental. Agora, a história ameaça se repetir. Com um detalhe: o momento. Gerson vive uma fase brilhante, titular e capitão do Flamengo, frequentemente convocado para a Seleção e com totais possibilidades de jogar uma Copa do Mundo. Sim, Gerson pode viver isso. Estas poderiam ser, sim, as próximas páginas de sua história.
Mas o futebol, como a vida, não cabe somente em páginas bonitas. Cabe em contratos, em cifras e em decisões. Gerson tem vínculo com o Flamengo até dezembro de 2030. Renovou recentemente. Mas se os russos pagarem a multa, e a vontade dele for ir, não haverá muito o que fazer.

Foto: Henry Romero/Reuters
E aí, Gerson, vale a pena largar tudo agora? Trocar a Marra da Gávea pelo frio de São Petersburgo? Abrir mão da Seleção, que te namora em tempos de Copa chegando? Arriscar a idolatria pela dúvida? Mas, no fim, como diria Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra, menos o amor da torcida. Esse é cego, surdo, mas nunca mudo”. Só o tempo dirá. Mas a torcida, como sempre, vai sentir. Porque o camisa 8, quando joga, parece dançar no meio de campo. Pois sua ausência deixará um espaço maior do que aquele entre as linhas. E se for mesmo o fim, que venha com gol, com taça, com abraço. Porque, no Flamengo, o Coringa nunca foi apenas mais uma carta no baralho. É símbolo, é ídolo!
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