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Em entrevista, a jornalista Lizandra Trindade defende que o esporte é um só e destaca o papel da comunicação, do marketing e dos clubes na valorização do futebol feminino.

João Cotta

Por: Vitor Fernandes e Jhenniffer Muniz

O futebol é, há décadas, aclamado pelo povo brasileiro, mas o espaço para as mulheres dentro da modalidade ainda é uma conquista em construção. Apesar de avanços recentes, a desigualdade entre o que é investido em equipes masculinas e femininas continua evidente. No entanto, a visibilidade do esporte praticado por mulheres tem crescido e já movimenta áreas como a economia, o marketing, a publicidade e o entretenimento. A presença em transmissões televisivas, a atenção de patrocinadores e o engajamento de torcedores mostram que o futebol pode ser um só, independentemente de quem está em campo.

Esse processo de transformação foi visto de perto pela jornalista Lizandra Trindade, que trabalhou na TV Globo e atuou como a principal repórter da emissora na cobertura da Copa do Mundo da França, em 2019, apontada como um divisor de águas na história da modalidade.

“Fomos com um modelo pregresso de cobertura do mundial feminino e o reinventamos em dias muito intensos de trabalho. O aumento significativo de visibilidade não acontecia só no Brasil, era uma transformação global”, lembra Lizandra.

Para ela, aquele torneio marcou um momento histórico não apenas para o esporte, mas também para a luta das mulheres na sociedade:

“Foi a cobertura mais espetacular da minha vida, porque eu estava no lugar e no momento em que um marco histórico de ‘antes’ e ‘depois’ se consolidava. Isso é significativo não só para a história das mulheres no futebol, mas para a história das mulheres na sociedade, do ponto de vista de respeito, equidade e ocupação de espaços.”

A jornalista rejeita o termo “futebol feminino” ao destacar que o esporte é um só, praticado por homens e mulheres.

“Não é admissível aceitarmos que haja um ‘futebol’, paixão nacional, jogado por homens. E um outro, o ‘futebol feminino’. Partindo do princípio de que é o mesmo esporte, as mesmas perspectivas de investimento e retorno financeiro se aplicam a ambos”, defende.

Para ela, se clubes, federações, emissoras e patrocinadores sabem como tornar o futebol masculino rentável, não existe motivo para não fazer o mesmo com as mulheres, além do preconceito.

No campo da publicidade e do marketing, Lizandra reconhece avanços, mas ainda pequenos. Algumas empresas, segundo ela, já perceberam a força de associar suas marcas ao esporte praticado por mulheres, mas as iniciativas permanecem concentradas em grandes eventos, como Copa e Olimpíadas.

“O crescimento existe, embora tímido. Para haver evolução efetiva, é preciso que todo o ecossistema atue junto: instituições esportivas, patrocinadores e mídia”, observa.

Para que essa evolução aconteça, a visibilidade é determinante. “Campeonatos e equipes dependem de torcida. Campeonatos e equipes dependem de recursos. E tanto público quanto patrocínio dependem de visibilidade. Se eu não tenho como acompanhar os jogos do meu time, não crio identificação. Sem público, não há investimento”, explica.

Nesse ponto, ela ressalta que empresas de comunicação precisam ampliar o espaço das transmissões, e clubes e federações devem valorizar suas equipes femininas como ativos estratégicos, capazes de gerar receita e de consolidar negócios.

Com o Brasil confirmado como sede da Copa do Mundo de 2027, Lizandra acredita que o país tem a chance de consolidar o futebol praticado por mulheres em um novo patamar.

“Vejo um trabalho muito consistente sendo realizado pela seleção e comissão técnica visando à Copa de 2027. A sociedade é receptiva. Acredito que a Copa terá envolvimento massivo de público, mídia e mercado. Mas sinto estarmos atrasados em muitos aspectos dessa construção. Os investimentos em comunicação e patrocínio deveriam ter chegado antes. E torço para que durem muito além da Copa, como aconteceu na França em 2019, que serviu de abre-alas para o desenvolvimento da modalidade na Europa.”

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