Mesmo com recorde de participantes e aumento no investimento dos clubes, o campeonato teve uma redução na cobertura da imprensa
O Campeonato Mato-grossense de 2024 bateu recorde de participantes, com oito equipes disputando o maior troféu do estado. Apesar do crescimento da modalidade no cenário estadual, a mídia esportiva não acompanhou essa evolução. Além disso, os clubes reduziram os investimentos em transmissões das partidas do campeonato. Mesmo com recordes alcançados em edições anteriores, o Mato-grossense feminino foi deixado de lado por aqueles que deveriam valorizar o esporte. A capital mato-grossense, embora esteja na disputa para ser sede da Copa do Mundo de 2027, ainda está longe de tratar o futebol feminino com o respeito necessário. Cuiabá EC, atualmente na Série A do brasileiro, manteve uma equipe reduzida com apenas 15 atletas, ao invés dos 25 habituais. Já o Mixto enfrentou uma diminuição de investimentos e um desmantelamento da equipe bicampeã estadual e campeã brasileira em 2023.
Em um levantamento da Revista Fuzuê , constatamos que, dos 18 jogos realizados nos campeonatos estaduais, apenas 7 foram transmitidos ao público. Mesmo equipes de peso, como Cuiabá e Mixto, deixaram de transmitir suas partidas nesta edição. Os jogos aconteceram entre julho e setembro, culminando com o Operário FC se sagrando tetracampeão estadual. Participaram desta edição Santa Cruz, Cacerense, Juara (Sorriso), Cuiabá, Atlético MT, Ação e o gigante estadual, Mixto, maior campeão da história do torneio.
Para a torcedora do Cuiabá EC Andreza Magalhães, a escolha dos horários não foi o maior empecilho para os torcedores nos estádios, mas sim a ausência de transmissão. Andreza, assim como a torcida do Cuiabá, teve apenas um jogo para acompanhar no estádio, o clássico diante do Mixto. “ Só assisti um jogo do Cuiabá, que foi contra o Mixto neste estadual, que também foi o único no estádio” .
O Cuiabá, assim como o Ação e o Operário, são clubes que optaram por sediar seus jogos em seus CT’s, e como estes locais não tem estrutura para receber público, dificulta ainda mais para os torcedores assistirem aos jogos. O Cuiabá nesta edição foi mandante apenas na partida diante do Mixto.
O Atlético Mato-grossense foi a única equipe do estadual feminino a transmitir todas as partidas. A equipe terminou o mato-grossense na terceira colocação, atrás apenas de Operário LTDA e Ação que decidiram o título estadual.
Já para Gabriela Galvão, torcedora do Mixto desde a infância, o futebol feminino tem cativado os torcedores e um dos pontos de maior admiração é o resultado positivo dentro de campo. Para Gabriela, o horário tem sido um empecilho, não só no estadual, mas também no brasileiro A2 que nesta temporada teve partidas sendo disputadas pela manhã. Ao ser questionada se apoiava a postura da diretoria do clube em não transmitir as partidas do Alvinegro, Gabriela afirmou que “acho errado, pois quando a pessoa não consegue ir [ ao estádio] ela fica sem assistir ao time”. O Mixto transmitiu apenas um jogo durante o Brasileiro A2, e nenhuma do Mato-grossense, dando um passo atrás do avanço da temporada anterior, onde o Alvinegro transmitiu grande parte do campeonato, incluindo as finais.
Em diversas transmissões de rádios e webrádio, os torcedores do Alvinegro expressam a insatisfação com a escolha do clube de não transmitir suas partidas. O Mixto, por sua vez alega que não transmite os jogos para forçar seus torcedores a irem ao estádio. Nesta temporada, mesmo não comercializando ingressos para as partidas, o estádio não obteve a mesma ocupação da temporada passada, quando o Mixto teve em média 333 pessoas por jogo da equipe no estadual. Diversos veículos de comunicação, quando questionados o motivo de não realizarem uma cobertura do futebol feminino, alegam que é pelo fato de não haver um retorno considerável financeiro e de audiência.
Para Lucas Sarmazi, do portal MixtoNet, os veículos optam por não transmitirem por uma questão de retorno: “A mídia esportiva em Mato Grosso não cobre o futebol feminino da maneira ideal porque considera um pouco atraente para o público. Eles acabam direcionando seus recursos para o que acreditam que terá maior retorno de audiência e financeiro .”
Neste cenário de esvaziamento da mídia tradicional, a mídia alternativa tem ocupado um espaço relevante. Dentro do cenário do Mato Grosso, portais de torcedores têm crescido, alguns desses perfis nas redes sociais tem mais seguidores que diversos veículos de comunicação tradicionais. Sarmazi afirma que “Os portais alternativos são uma ótima saída, um ótimo meio para quem está interessado em ter melhores informações. Hoje em dia tem vários portais, alguns portais com muita informação sobre o futebol feminino e acredito que ajuda muito.” Lucas também acredita que esses portais precisam de mais apoio por parte dos empresários locais,
Para Beatriz Abrahão, comentarista da Webrádio Piabanha, “Hoje em dia, há vários portais com muita informação sobre o futebol feminino. Esses portais fazem um trabalho com muita vontade e amor, muitas vezes sem receber nada em troca. Mas preciso de mais apoio e patrocínio.”
O futebol feminino em Mato Grosso está em um momento de grande ascensão, refletindo conquistas expressivas e uma evolução significativa dentro e fora de campo. No entanto, esse crescimento vem ocorrendo em paralelo a uma redução do interesse por parte da imprensa tradicional, que ainda vê o futebol masculino como foco prioritário. Em resposta a essa lacuna, uma nova tendência tem ganhado força: a dos veículos de comunicação alternativos. Embora ainda sejam poucos — cerca de uma dezena atualmente —, esses portais estão mudando a perspectiva sobre a cobertura do esporte feminino. Movidos pelo comprometimento com o esporte e pela valorização das atletas, esses veículos vêm conquistando seu espaço, com uma cobertura mais próxima e engajada, que oferece aos torcedores informações detalhadas e humaniza a narrativa em torno das jogadoras e competições.
Esta reportagem procurou os clubes Operário e Atlético Mato-grossense e não obteve resposta.
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