No futebol, há noites que são maiores do que o placar. São noites em que o tempo parece querer parar para assistir. Quarta-feira, 14 de maio, no Morumbis ou no sofá da sala, quem viu sabe: um menino de 17 anos viveu seu primeiro milagre. E o São Paulo, com um a menos durante quase todo o jogo, reencontrou sua alma na Copa Libertadores.
Era para ser uma daquelas noites de sofrimento silencioso. Alisson exagerou na dividida logo aos 17 minutos e deixou o time com dez. O estádio murchou. A torcida, que antes rugia, agora prendia a respiração a cada ataque paraguaio. O Libertad, com um a mais e nenhum pudor, fez o que mandava o manual: empurrou, girou a bola, esperou o espaço. E quando ele apareceu, Aguilar subiu sozinho e marcou. 1 a 0. O clichê do futebol racional.
Mas o futebol, esse velho poeta, adora contrariar os fatos. E decidiu escrever outra coisa. Deixou a lógica no vestiário e chamou Lucca para o improviso.
Lucca. Nome simples, daqueles que a gente grita sem saber que está prestes a nunca mais esquecer. Aos 17 anos, sem tempo para pensar, com a camisa colada no corpo e o mundo ainda cabendo dentro da chuteira, o garoto arrancou pela esquerda, limpou a marcação e bateu seco, rasteiro, decidido. Como se já tivesse feito isso mil vezes. Como se não fosse sua estreia. Como se o Morumbis fosse a rua de casa.
A bola morreu no fundo. E o que se viu depois foi um time inteiro correndo atrás de um garoto, como se fosse ele o adulto da história. Porque naquele momento era. O gol que garantiu a vaga nas oitavas de final, o empate com sabor de glória, veio dos pés de quem talvez nem tivesse idade para entrar no cinema sozinho.
O São Paulo saiu classificado. Mas saiu, principalmente, com esperança renovada. Não só porque lidera o grupo, mas porque descobriu que tem mais do que elenco: tem uma joia que brilha em noite escura.
Lucca chegou. E com ele, talvez, o próximo capítulo de um São Paulo que ainda sabe ser gigante.
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