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Eu tenho saudade do país do futebol que eu nunca vivi

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Francois Nel/ Getty Images

O Brasil já não mete medo como antes. Se há alguns anos a camisa amarela entrava em campo com ares de predestinação, hoje parece carregar um peso de incertezas. O time que já foi sinônimo de futebol-arte agora se vê perdido entre redescobrir sua identidade esquecida no passado e promessas que não viraram realidade.

Mas, é impossível falar de seleção sem se apegar as lembranças de suas glórias, numa época em que a bola no pé encantava não apenas os torcedores do Brasil, mas do mundo inteiro.O mundo, nos anos 70, se curvou ao talento de Pelé, Rivelino, e tantos outros craques que marcaram a época. Romário e Bebeto, em 94, nos davam a ilusão de que jogo bonito não gerava esforço, pareciam desfilar pelos gramados com tanta naturalidade. A Copa do Mundo de 2002 nos deu mais um holofote com Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho. Ficamos mal acostumados e não percebemos que ao longo dos anos algo mudou. Aquele futebol leve e solto começou a se perder em algum momento.

Só que os tempos mudaram. Depois disso, veio um período estranho. O Brasil continuou revelando talentos, mas parecia que sempre faltava algo. A derrota por 7 a 1 contra a Alemanha  em casa foi um baque daqueles. Não foi só perder, foi perder sendo atropelado, sem tempo para reagir. Em 2018, fomos eliminados sem brilho. Em 2022, a mesma coisa. Fora outros  golpes como a desclassificação do Brasil para as Olimpíadas de Paris 2024. 

Nos últimos anos, a Seleção tem sido um reflexo do caos. Sob o comando de Fernando Diniz, vimos lampejos de brilho, como a goleada contra a Bolívia, mas também protagonizamos atuações preocupantes como derrotas para o Uruguai, para a Colômbia e para nosso maior rival: Argentina. E o técnico que prometia trazer um novo ar, saiu sem deixar seu legado. E então veio Dorival Júnior, e com ele uma nova esperança. A vitória sobre a Inglaterra pareceu reacender o orgulho. É isso, ali estava ela, a Seleção brasileira parecia ter finalmente ter dado as caras ao torcedor. Mas, não durou muito. O empate contra a Espanha e a eliminação na Copa América para o Uruguai lembraram que o caminho ainda é longo.

Hoje, em 2025, onde estamos? O Brasil aparenta seguir sem identidade clara. Mas, a verdade é que o futebol mudou. O mundo aprendeu a jogar e, enquanto isso, parece que o futebol brasileiro ficou preso entre a nostalgia do passado e a dificuldade de encontrar um novo estilo. O futebol europeu se transformou em uma máquina de tática, intensidade e coletividade. E nós seguimos esperando que outro craque surja e resolva tudo sozinho. Neymar? Endrick? Talvez o “tempo dos salvadores” tenha ficado para trás. Os últimos jogos mostram um time que ainda está se encontrando. tem talento? Tem. Tem potencial? Muito. Mas parece que falta confiança, parece que a camisa não pesa mais. Não temos mais aquele brilho que fazia qualquer um tremer ao ver a amarelinha. 

A realidade é que o Brasil nunca vai deixar de ser gigante no futebol. Mas ser gigante só na história não basta. O torcedor anseia pelo Brasil que encantava, que jogava com aquela leveza, com aquela ousadia, com confiança. O torcedor anseia por jogadores que tenham orgulho de exibir as cinco estrelas estampadas na camisa. O torcedor anseia pela sexta. Se vamos conseguir? Ainda não sabemos, mas enquanto a bola rolar e o torcedor acreditar, a esperança segue viva. E, no futebol, às vezes tudo que a gente precisa é de um pouco de esperança para mudar o jogo.

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